
Bastavam duas ou três palavras para sabermos de quem era a voz que cantava. Do timbre ao modo de entoar, e sobretudo, acentuar, Tony de Matos encontrou no canto uma expressão de personalidade que o distinguia dos demais, até mesmo entre os outros grandes cantores românticos do seu tempo. Nascido em 1924, cresceu entre uma companhia de teatro itinerante mas em vez dos palcos foi na rádio que deu primeiros passos como cantor, ainda anos 40, somando então espaços de trabalho entre esplanadas e casas de fado onde começou a atuar, reencontrando logo depois os palcos, agora no teatro de revista. Como era hábito em inícios dos anos 50 foi a Madrid gravar os seus primeiros discos, lançados ainda no formato de 78 rotações, numa altura em que a sua vida (e carreira) o levaram por alguns anos. Deveu-se depois, já no início dos anos 60, ao sucesso estrondoso de canções como Só Nós Dois, Procuro e Não Te Encontro e Lado a Lado um definitivo afirmar do seu nome no panorama da canção ligeira em Portugal. Ele mesmo confessaria que foi o impacte desse êxito que o levou a deixar o Brasil e a regressar.
Duas destas canções surgiriam logo em 1963 no álbum Lado a Lado, um dos vários LP que Tony de Matos lança numa altura em que o EP continua, contudo, a ser o principal formato entre a oferta discográfica do mercado nacional. E é de facto intensa a atividade editorial de Tony de Matos durante a década de 60 incluindo, além da agenda de lançamentos a 33 e 45 rotações uma passagem (menos bem-sucedida) pelo Festival da Canção em 1966 e uma presença no cinema (dela resultando também o EP com as canções do filme Rapazes de Táxis, estreado em 1965). Uma das mais interessantes características da carreira de Tony de Matos nos anos 60 deve-se ao empreendedorismo com que encarou não apenas a abertura de uma casa sua onde cantava regularmente (chamou-lhe Lado a Lado) e à criação de uma editora própria (a Estúdio) na qual, durante alguns anos, lançou parte da sua discografia.
O protagonismo dos EP na condução das discografias de então – e Amália é então uma das raras exceções no modo como eleva o formato do “álbum” a um patamar igualmente relevante enquanto criação artística – faz com que muitas vezes as edições em LP decorram da reunião de material anteriormente editado em suportes a 45 rotações. É essa a história de Tony de Matos, LP cuja edição é atribuída na plataforma Discogs ao ano de 1969 e em cujo alinhamento encontramos como Procuro e Não Te Encontro e Lado a Lado, de Nóbrega e Sousa, Só Nós Dois, de Joaquim Pimentel, Tu Sabes Lá…, de Linhares Barbosa ou Agora Choro à Vontade, de Eugénio Pepe, fazendo deste alinhamento uma montra de nomes relevantes da composição da canção ligeira de então. O álbum, que o mostra na capa numa fotografia tirada na Estação de Santa Apolónia, recolhe temas lançados em EPs da etiqueta Alvorada. Porém, para um panorama da obra de Tony de Matos nos sessentas há que juntar ainda as edições que surgiram pela Decca e pela Estúdio. Pelo alinhamento cruzam-se géneros, opções de arranjos distintas e uma frequente presença de ecos do fado.
Como muitos outros nomes da canção ligeira portuguesa, Tony de Matos viveu dias de protagonismo mais discreto depois de 1974. Mas, como poucos, conheceu mais tarde um reencontro com várias frentes de atenção (entre as quais um público mais jovem), primeiro como convidado inesperado num concerto de Vitorino, depois com a edição (em 1985) do álbum Romântico, que lhe valeu uma digressão e até mesmo uma atuação, em nome próprio, e com orquestra, no Coliseu dos Recreios.
Um pensamento