O mais recente álbum da cantora norte-americana com ascendência japonesa é feito de canções escritas antes da pandemia. Mas o passar destes dois últimos anos acabou por dar novos rumos para a forma como acabaram por ser moldadas. Texto: Nuno Galopim

Filha de pai americano e mãe japonesa, nasceu no Japão, Mitski cresceu entre passagens pela Turquia, China e República Checa, mas à identidade e vivências que passam por essas geografias juntou depois pistas que decorrem de todo um trabalho de aprendizagem e esforço que começou a ganhar forma sobretudo quando entrou no Hunter College (Nova Iorque) para estudar cinema… Outro filme esperava contudo o seu futuro criativo… E foi pela música que avançou. Primeiro no metal, depois em terreno indie (chegou a fazer primeiras partes dos Pixies e a trabalhar com o com os Xiu Xiu), Mitski acabaria por definir uma obra em nome próprio que começou a ganhar forma em discos que foi lançado a partir de 2012 até que, dez anos depois, alcança agora em “Laurel Hell” o seu melhor momento até aqui.
O álbum surge quatro anos após o anterior “Be The Cowboy” mas na verdade é feito de canções que Mitski compôs logo por esses dias. Não se trata por isso de um disco com canções escritas em tempo de pandemia, tendo contudo a sua gravação já acontecido entre temporadas de confinamentos. E foi aí que surgiram as transformações que acabariam por moldar as suas formas finais.
As canções, pelas quais procurou refletir sobre sensações como a vulnerabilidade, o erro ou a transcendência, surgem num mapa de paisagens nascidas de imagens que cruzam lugares e tempos, com um sentido de vastidão definido por molduras dentro das quais ora surgem pistas que vincam as presenças de escolas synth pop ou indie. Mas, ao mesmo tempo, não escondem as raízes mais profundas (sobretudo marcadas por assimilações da country) que marcaram as etapas iniciais evolução deste ciclo.
O percurso de evolução da forma das canções traduziu a passagem do tempo. E com as semanas e os meses foram sugerindo novos significados que acabaram assim por refletir como os dois últimos anos, mesmo não marcados na escrita, acabaram mesmo assim por definir um disco feito de ambientes cuidados, detalhadamente desenhados e… cinematográficos (escute-se “Valentine Texas”, que abre o alinhamento e facilmente a poderemos imaginar com imagens de um filme de David Lynch)…
“Laurel Hell”, de Mitski, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais, numa edição Dead Oceans