William Orbit, “The Painter”

Ao cabo de um longo silêncio, o músico e produtor que trabalhou com nomes que vão de Madonna aos Blur regressa com “The Painter”, disco elegante e tranquilo ao qual chama uma série de novos e velhos colaboradores. Texto: Nuno Galopim

E o silêncio chegou ao fim. Passaram oito anos sobre o quinto volume da sua série Strange Cargo e 12 sobre Pieces in a Modern Style, o álbum onde seguia as pisadas outrora ensaiadas por Wendy Carlos para abordar peças da música clássica através de linguagens e ferramentas da música eletrónica. Ray Of Light, a sua “histórica” colaboração com Madonna está quase a celebrar as bodas de prata. Mas o novo The Painter volta a colocar o nome de William Orbit no tempo presente. Todas as referências acima lançadas explicam não apenas um percurso como também caminhos pelos quais o músico e produtor talhou uma identidade. E agora, 35 anos depois do surpreendente volume inaugural de Strange Cargo (1987) e uns 30 sobre a aventura que assinou como Bassomatic, uma voz criativa que marcou também episódios inesquecíveis em trabalhos com os Blur, Beth Orton ou as All Saints, regressa com um disco que, sem deixar de notar que estamos em 2022, parece procurar um momento de síntese num ponto onde todas estas memórias confluem para nos fazer notar que, em comum, partilharam a identidade de alguém que, mesmo perante colabores distintos, sempre deixou firmada uma mesma assinatura autoral, sempre elegante, de apelo clássico mas de vistas lançadas aos desafios do futuro.

Como maestro que dirige e pensa uma ideia de conjunto, William Orbit convoca aqui uma série de colaboradores, entre os quais Georgia, Gloria Kaba, Ali Love, Laurie Mayer, Katie Melua, Beth Orton, Lido Pimienta, Polly Scattergood, Natalie Walker ou Hukwe Zawose, alguns deles tendo já partilhado experiências em projetos anteriores. Juntos ajudam Orbit a juntar as peças do jogo de síntese. Ou, seguindo as pistas do título do álbum e citando depois Mussorgsky, os quadros de uma exposição. E por muito que uma identidade comum os atravesse, seguindo as marcas de design requintado, placidez bem desenhada, recorrendo a electrónicas planastes, sugestões de espaço e luz, a diversidade acaba (em parte também como consequência das parcerias) a caracterizar o conjunto de canções e momentos instrumentais aqui reunidos. Num primeiro olhar pode parecer quase um ovni em seara inesperada o momento pop com travo colombiano contemporâneo (ler reggaeton) cantado em castelhano por Lido Pimienta em Nuestra Situacón. Mas se o juntarmos às memórias da voz do tanzaniano Hukwe Zawose em Heshima kwa Hukwe e demais colaborações, notamos como, afinal, estamos perante mais um episódio de afirmação de uma linguagem (e não apenas um caminho) do mesmo músico que, em 1990, juntava num mesmo álbum (em concreto Set The Controls For The Heart of The Bass, assinado como Bassomatic) canções tão distintas, mas afinal cheias de afinidades entre si, como Fascinating Rhythm ou Esse on By. Já estava com saudades de William Orbit, confesso. E em The Painter assinala um belo regresso com um dos seus melhores discos.

“The Painter”, de William Orbit,  está disponível em LP, CD e vinil numa edição da Rhino.

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