Weyes Blood “And in the Darkness, Hearts Aglow”

Três anos depois do maravilhoso “Titanic Rising” eis que Weyes Blood lança o seu sucessor. Tem por título “And in the Darkness, Hearts Aglow” e, desenvolvendo mais ainda as formas, alarga o espetro de observações e reflexões de uma narrativa comum. Texto: Nuno Galopim

O ano de 2019 assinalou a definitiva consagração da californiana Weyes Blood com o álbum Titanic Rising a surgir então bem destacado em várias listas de grandes publicações internacionais (e, já agora, no Gira Discos também). Era um disco que partia do caminho que Natalie Laura Merling (o seu nome real) vinha a desenvolver, não apenas em busca de uma expressão sua de uma linguagem como cantautora no mais clássico sentido da expressão, como igualmente numa demanda temática que coloca uma preocupação pela defesa deste nosso espaço comum: a Terra. O nome de Joni Mitchell foi por diversas vezes referido como uma referência para Weyes Blood. Entre vários textos já publicados sobre a cantora outra das referências apontada é a de Stevie Nicks… Convenhamos que melhor não poderia pedir a quem a escuta, mostrando já (em 2019) as canções de Titanic Rising traços bem evidentes de uma demarcada marca autoral tanto na escrita das palavras como na composição e posterior busca de cenografias, o que não significa uma memorização dos já muito convidativos The Outside Room (2011), The Innocents (2014) e, sobretudo, o belíssimo Front Row Seat To Earth (2016)

Todas estas expressões de busca e afirmação de uma identidade passam, por exemplo, por heranças vivenciais, uma delas a música religiosa (que passou pela sua formação) e que, uma vez mais, agora no novo And in the Darkness, Hearts Aglow, se manifesta na capacidade em criar pequenos hinos a cada nova canção. Tal como em Titanic Rising os arranjos são elaborados mas nunca intrusivos, entendidos como cenário e não personagem. E traduzem um gosto por terrenos habitualmente designados por “chamber pop” (o que se calhar leva alguma da escrita já publicada sobre este álbum a falar em barroco… Vivaldi, Telemann ou Couperin não iriam compreender a comparação, mas, enfim, é na verdade uma metáfora talvez mais dada a traduzir o sentido de opulência de formas nas artes decorativas do que coisa do foro estritamente musical. Mais certeira parece ser a tela de referências sugerida no artigo do Guardian, que sugere tanto um Brian Wilson como (na interpretação) uma Karen Carpenter. Ao que eu acrescentaria um mood que podia habitar um episódio de Twin Peaks, sem implicar, contudo, uma descida aos submundos de significados que a série criada por David Lynch nos foi sugerindo nas suas três temporadas.

Titanic Rising terá iniciado um ciclo de três discos sob uma narrativa estética e tematicamente consequentes. E se o disco de 2019 olhava sobretudo para os jogos de frágil equilíbrio na casa comum que habitamos (o planeta, entenda-se), lançando sinais de alerta, agora em And in the Darkness, Hearts Aglow, disco que nasce depois de todo um arco de vivências que teve uma pandemia e todo um quadro de comportamentos na mira das atenções de Weyes Blood, abre o ângulo de observação para, ao espaço acrescentar quem o habita e o modo como nos relacionamos. Curiosamente, apesar do programa temático algo sombrio, as canções desenham caminhos que parecem traduzir uma sede de otimismo e esperança. E uma vez mais vale a pena destacar o papel dos arranjos na arte final das canções, mostrando jogos de entendimento entre cordas e sintetizadores, com cereja sobre o bolo no momento em que, em God Turn Me Into a Flower, Daniel Lopatin se junta à pequena “orquestra” discreta de Weyes Blood. Em suma, se o álbum de 2019 colocou Weyes Blood no mapa, o novo disco cimenta um estatuto, mostrando novas paragens face aos caminhos ali sugeridos… Este é um dos grandes discos de 2022 e agora só falta que, tal como em 2019, uma visita a estes lados nos permita contemplar de perto estas visões poéticas sobre o nosso tempo.

And in the Darkness, Hearts Aglow”, de Weyes Blood, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais, numa edição da Sub Pop.

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