Twice (Ericeira)

O nome é já bem conhecido, mas a casa é nova. E a geografia também. Os mais atentos ao circuito das lojas de discos em vinil certamente conheciam a Twice, na Rua Cecílio de Sousa (Príncipe Real). Era uma das melhores lojas de Lisboa… O encerramento da loja fez-se sentir. Mas a boa notícia chega agora da Ericeira, onde a Twice começou há dias uma nova etapa da sua vida.

Após o fecho da Twice no Príncipe Real, a Twice ocupou, durante uns tempos “um pequeníssimo espaço na Rua de Buenos Aires, na Lapa, pensando dar seguimento à loja anterior”. Mas “infelizmente nunca chegou a abrir ao público”, conta Gonçalo Troçolo, justificando: “A pandemia tratou dessa parte”. A Ericeira “surge no seguimento de várias mudanças, que desejávamos, há muito, concretizar”, explica. E continua: “Apesar de lisboeta e de sempre ter vivido na capital, a vontade de estar perto do mar e eventualmente desenvolver algum tipo de relação profissional, foi algo que sempre desejei. E como adoramos a Ericeira, resolvi arriscar. Também porque apareceu um espaço que não me deixou pensar duas vezes”.

A Twice, agora na Ericeira, oferece, quanto aos discos em stock, “um percurso semelhante ao espaço anterior: A “world music” e os sons globais, mais ou menos “exóticos” e inesperados”, que Gonçalo Troçolo procura “reforçar, seja através de edições novas ou usadas”. O cinema e documentários “têm também agora mais espaço”. Há também “uma aposta maior na música eletrónica através de alguns “revivalismos” de décadas passadas, o mesmo se passando com o funk, disco e soul igualmente mais representados”. Gonçalo realça, “no entanto, que embora coloque esta oferta em destaque, quem procure um disco de, por exemplo, Radiohead, música brasileira ou jazz, não deixe de aparecer”.

Quanto aos formatos há “fundamentalmente o vinil, mas também CDs mais ou menos selecionados e que seguem os padrões já referidos”. Há também “livros, apesar de poucos”. Por fim, “e apesar das limitações físicas do espaço”, Gonçalo espera “poder complementar a loja com exposição e vendas de outras propostas: pintura, escultura, estão no horizonte”.

E quem será o público da Twice na Ericeira? “Alguma incógnita, neste aspecto”, admite. Mas a loja espera “a visita das pessoas da Ericeira e de toda a região em volta”. Gonçalo continua: “Notei, com muito agrado, alguma expectativa e interesse pela abertura de uma loja como esta. O que dá até mais vontade de prosseguir. Pois ficaria muito satisfeito se a Twice viesse a fazer parte da comunidade local e não ser vista como um espaço outsider, desligado do que se passa em volta. Também, mesmo que ocasionalmente, espero também a visita de amigos e clientes de Lisboa, que possam passar por cá de vez em quando. E possam mesmo fazer encomendas online. E por fim o turismo. Neste caso resta saber se quem vem para cá para o surf e praia, ainda tem espaço para discos.” A operação online é naturalmente hoje parte importante nesta área. Gonçalo concorda: “Para mim, pelo menos, não é possível descurar o vastíssimo mercado online. Claro que a concorrência é quase infinita, os formatos e soluções comerciais possíveis, são igualmente vastos, pelo que é preciso saber ou recorrer a quem saiba trabalhar este mercado com profissionalismo. Mas já não o posso ignorar”. Como tantos outros responsáveis por espaços comerciais, Gonçalo Troçolo reconhece que a pandemia teve um profundo impacto neste negócio: “Para mim, mudou tudo. Basicamente tive, durante um ano, um espaço fechado onde despejei imenso dinheiro sem ter retorno algum. No geral, creio que temos de aprender a viver com os condicionamentos que o vírus implica. E perceber que as outras formas de comércio que vieram ao de cima durante os diversos confinamentos não mais devem ser descurados. Já aqui foi referido o mercado online que é o melhor exemplo disso mesmo”. – Nuno Galopim