Baratos da Ribeiro (Rio de Janeiro)

Entre os lugares obrigatórios de passagem no Rio de Janeiro está a Baratos da Ribeiro, loja de discos e livros usados (um “sebo” como se diz no Brasil) que fica na esquina da Rua Voluntários da Pátria com a Rua 19 de Fevereiro, no bairro de Botafogo. Texto e fotos: Nuno Galopim

A entrada faz-se por um pequeno pátio onde encontramos dois sofás e uma mesa. E num dos sofás está frequentemente o proprietário, Maurício Gouveia, sempre pronto para uns dedos de conversa sobre discos, livros ou o mundo ao nosso redor. Empreendedor e criativo, com um percurso pessoal que inclui, além do trabalho como DJ, a criação de fanzines na adolescência, uma mudança de Taubaté (em São Paulo) para o Rio com o objetivo de estudar jornalismo (tendo acabado por fazer um rumo como livreiro) e a responsabilidade de ser um dos fundadores da Feira do Disco do Rio de Janeiro em 2010, Maurício fez desta loja (que em tempos morava em Copacabana) um espaço que é mais do que apenas um local para encontrar livros e discos usados. A Baratos da Ribeiro é célebre por criar eventos (musicais e literários) e em tempos chegou até a acolher as gravações do programa de rádio Clube do Vinil (que Maurício, desde a eclosão da pandemia, passou a fazer em casa). Esta é também, como o nome sugere, a sede da editora independente Clube do Vinil.

Vale a pena ler um excerto da apresentação da loja que encontramos no seu site oficial: “O Sebo Baratos da Ribeiro é um caminho para ideias, lugares, épocas, pessoas, sons e imagens. (…) Queremos salvar os livros e os discos do fundo dos armários, do pó do desuso.” E acrescenta ainda. “Acreditamos que o verdadeiro prazer de ir a uma boa livraria ou loja de discos está em ser surpreendido”.

Entre a equipa da loja os portugueses encontrarão certamente ali um rosto familiar. Trata-se de Pedro de Freitas Branco [e para que não haja confusões fica já dito que é meu amigo e da minha família desde há longos anos], que trocou Lisboa pelo Rio de Janeiro há uns anos. No site da loja o Pedro é apresentado assim: “é pesquisador musical, autor de alguns livros de não-ficção sobe o tema (o último, Sobreviventes: o Rock em Portugal na Era do Vinil, foi lançando em 2019), e compositor e intérprete – com a banda Like a Rolling Stone homenageia seus ídolos máximos, e com a banda White desenvolve seu trabalho autoral. Curador do selo e diretor artístico de eventuais futuras produções”.

A loja em si está dividida em dois pisos, com livros e discos em ambos (as promoções em vinil ficam no piso superior). São, como explicam no site, “especializados em ciências humanas, literatura, brasiliana, divulgação científica, cinema e música” no que se refere aos discos e, quanto à música, em vinil, ali há secções com títulos de “rock’n’roll, blues, folk, psicadelismo, garage, hard rock, progressivo, punk, new / no wave, rockabilly, indie, krautrock, grunge, merseybeat, heavy metal” no pop/rock internacional. Há soul, funk, reggae e rap, tanto americano quanto local. No jazz há “west coast, be bop, cool jazz, fusion, free jazz, etc”. Quanto à música brasileira a seleção inclui “bossa nova em especial os conjuntos instrumentais dos anos 60 e ainda militantes renovadores do género como Joyce, Marcos Valle, Azymuth, etc”. Há discos da “velha guarda do samba, de Geraldo Pereira ao Nelson Cavaquinho, passando por Monsueto e Clementina de Jesus. Há tropicalismo, lira paulistana, samba-rock, etc”. Tudo isto e ainda singles de sete polegadas “de selos alternativos como Monstro Discos, ST2, Mondo 77”… O detalhe da descrição deve-se, naturalmente, ao modo como o site da loja o apresenta. Ao todo haverá ali cerca de 20 mil livros (com belas representações nas seções de música e de banda desenhada) e 10 mil discos.