Pensado para o ecrã de uma sala escura de cinema, o filme “Hollywood High” recorda a história do relacionamento dos Duran Duran com Los Angeles e acompanha uma atuação recente da banda no terraço de um hotel na cidade californiana. Texto: Nuno Galopim
Quando, em 2021, os Duran Duran assinalaram os 40 anos de vida discográfica (e vale a pena sublinhar aqui que a história da banda, mas então ainda sem discos, recua a 1978), o parabéns a você era sobretudo cantado através de uma canção. Chamava-se – sem equívocos – Anniversary e celebrava, plena de marcas do DNA do grupo, uma aventura de 40 anos de vida mas ainda com tempo e muitos planos pela frente. A canção surgia no alinhamento de Future Past, o álbum mais ousado dos Duran Duran desde o injustamente por vezes esquecido Medazzaland, mostrando como, depois de pontes mais evidentes com heranças pessoais evocadas em All You Need is Now e Paper Gods, o encarar da folha em branco acabara por espoletar um corpo de ideias e desafios que deixavam claro que, apesar da carga de nostalgia que passa por muitos dos que enchem as plateias dos seus concertos, da parte da banda há ainda uma vontade em não baixar os braços e viver das memórias.
Já em 2022, e apesar da passagem de 40 anos sobre a edição de Rio (que na verdade conheceu novas edições especiais em vinil e CD em 2009), a campanha de “aniversário” continuou, desta vez com reedições em CD e vinil (de fora do vinil agora fica apenas o álbum Pop Trash). Às memórias junta-se contudo um novo capítulo. E este chegou (com timming apontado a reforçar o momento da entrada do grupo no Rock’N’Roll Hall of Fame) na forma de um filme.
Não era a primeira vez que um filme se cruzava com o percurso dos Duran Duran. Mas Hollywood High corresponde à primeira criação dos Duran Duran com o grande ecrã como primeiro objetivo. É que, apesar de ter passado pela sala escura e, depois, conhecido edição em suportes físicos de home video, Unstaged, realizado por David Lynch, era na origem uma criação pensada para difusão online. Sem as salas no seu percurso, o filme Arena – An Absurd Notion (1984), de Russel Mulcahy, nascera diretamente para o mercado das cassetes vídeo (conhecendo depois edição em DVD). Hollywood High, cujo futuro poderá passar pelas plataformas de streaming e, eventualmente, edição em DVD e Blu Ray, é antes de tudo um projeto para ver em sala. E assim foi, com sessões anunciadas, limitadas, concentradas numa agenda global semelhante, e com plateias a reagir na hora, quase como se de uma atuação ao vivo se tratasse.
O filme começa com um olhar documental sobre a história do relacionamento dos Duran Duran com a cidade de Los Angeles. Ouvem-se histórias da primeira visita à cidade, o primeiro concerto, a passagem da Sing Blue Silver Tour pela América em 1984, o encontro com Warren Cuccurullo… Às memórias junta-se depois a gravação (sem truques nem extras) de uma atuação no terraço de um hotel na Vine St, com o prédio da Capitol Records (em tempos a editora do grupo nos EUA) como cenário natural. O alinhamento valoriza sobretudo a presença do recente Future Past – com Invisible, All of You, Give it All Up, Anniversary e Tonight United – juntando depois as memórias de A View to a Kill, Notorious, Come Undone, Pressure Off, White Lines (Don’t Do It), Hungry Like The Wolf e Ordinary World, esta última com as cores da bandeira ucraniana a iluminar o edifício da Capitol.
Sem aparato vídeo, sem convidados especiais e perante a plateia possível de reunir naquele terraço, esta não é a típica atuação com valor acrescentado que muitas vezes vemos em filmes concerto. Podiam ter eventualmente escolhido a passagem pelo Hollywood Bowl, mas não era essa a ideia… Pelo contrário, a aposta fez-se com num minimalismo de recursos, valorizando as capacidades performativas da banda e as canções. Opção arriscada (mas com final feliz) e talvez inesperada numa banda que tanto valor sempre atribuiu ao valor do artifício (é elogio) perante a canção pop. No fim, tal como em Future Past, fica claro que temos aqui uma banda veterana em momento de pico de forma. E Los Angeles foi mesmo o cenário ideal para fixar este momento.
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