Uma das mais sólidas referências da cultura pop dos oitentas, com uma carreira que atravessou os tempos com algumas mudanças de formação mas nunca uma pausa, os Duran Duran atingem agora a fasquia dos 40 anos. Quarenta de discos que, na verdade, o grupo nasceu em Birmingham em 1978, originalmente na forma de um tio com Nick Rhodes (teclas) e John Taylor (na altura na guitarra) e contando com a voz de Stephen Duffy. A saída deste último, poucos meses depois, deitou por terra o caminho para um álbum de estreia no qual estavam a trabalhar e do qual algumas canções ganhariam forma, longos anos depois, no disco que Nick Rhodes e Stephen Duffy criaram sob o nome The Devils.
Vão chegando novos músicos. Roger Taylor na bateria, Andy Taylor na guitarra (passando John para o baixo) e, depois de uma etapa em 1979 com Andy Wickett, a chegada de Simon Le Bon fixou a formação em 1980. Chamaram atenções ao assegurar o slot de abertura da digressão de Hazel O’Connor desse ano e, ainda antes do fim do ano, estavam nos estúdios da EMI em Manchester Square a gravar com Colin Thruston não só as maquetes para o álbum de estreia mas as duas faixas para o single de estreia, que editaram a 2 de fevereiro de 1980.
“Planet Earth” e “Late Bar” foram o primeiro episódio de uma discografia que nasceu diretamente ligada a vivências e referências em comum com o movimento new romantic, do qual o grupo descolaria ainda antes do final de 1981 para olhar mais adiante, criando uma visão pop muito pessoal que, apesar de assente sob referências que vão de Bowie aos Chic, cedo deixou claro que iria definir a região demarcada de si mesma.
As dores do crescimento trouxeram instabilidade em meados dos oitentas, quando o estatuto alcançara um patamar de popularidade global que, por sua vez, gerou muita comichão no discurso crítico. Os anos 90, e em particular as opiniões favoráveis de jovens admiradores, de Billy Corgan a Courtney Love, ajudaram alguns antes céticos a reavaliar o percurso e a real influência dos Duran Duran entre as gerações seguintes. A reunião da formação original depois da viragem do milénio deu ao grupo um novo momento. Com formação a quatro fixada desde a gravação de “Red Carpet Massacre”, são hoje respeitados veteranos e reunem no novo “Danse Macabre” os dois guitarristas que integraram a formação da banda. Ainda ativos, com uma obra em disco, assim sendo, longe de fechada.
Aqui fica um apanhado da discografia. Gradualmente surgirão links e textos sobre cada um dos discos.
ÁLBUNS DE ESTÚDIO:

1981. “Duran Duran“
Com apenas dois singles editados, mas uma já expressiva presença mediática e uma intensa agenda de concertos (sobretudo no Reino Unido), os Duran Duran eram já um dos casos de maior sucesso associados à então chamada vaga new romantic quando, em junho de 1981, anunciaram o lançamento do seu primeiro álbum. Chamaram-lhe, simplesmente, “Duran Duran”. O disco, produzido por Colin Thurston, mostrava uma banda mais próxima do som pop de “Planet Earth” do que da intensidade mais rock’n’roll sugerida em “Careless Memories”, os singles (ambos presentes no álbum) editados nos meses anteriores.
“Duran Duran” é um claro exemplo de síntese dos interesses e visões que caracterizaram uma geração pop educada ao som de David Bowie e dos Roxy Music, entusiasmada pela revolução punk e, mais tarde, interessada pelo sentido rítmico entretanto revelado pelo disco sound e canções como “Planet Earth”, “Girls On Film” (que seria editada como single um mês depois do lançamento do álbum), “Anyone Out There”, “Sound Of Thunder” ou “Friends Of Mine” são fruto do cruzamento destas referências. O seu impacte na época (sob aclamação de jornalistas de publicações como a “The Face” ou “Melody Maker”) ganhou adeptos e expressão entre contemporâneos. Na sua primeira prensagem em alguns territórios ficaria de fora o mais cenográfico “To The Shore”, tema que revelava um sentido plástico mais elaborado, característico de uma demanda que Nick Rhodes, o teclista, fez questão de nunca abandonar. O álbum foi um caso de sucesso global. Só no Reino Unido morou, por 118 semanas, na tabela de vendas.

1982. “Rio”
Inspirado pelo optimismo e cor que encontraram na América em 1981, o segundo álbum dos Duran Duran celebrou essa descoberta, inclusivamente adoptando por nome uma marca imediatamente reconhecível da geografia americana: o “Rio” (de Janeiro), apesar da invisibilidade do Brasil e da cultura brasileira em quaisquer outros momentos do disco.
Tal como se notara entre as canções do álbum anterior os caminhos da tradição pop/rock cruzavam-se uma vez mais com uma predisposição natural para momentos de fuga noturna com a dança no horizonte (característica que de resto seria vincada nas misturas alternativas apresentadas na edição americana do álbum). Contudo, a presença de uma mais elaborada cenografia talhada pelos trabalhos para teclas amplificava o quadro quase cinematográfico dos acontecimentos sonoros, representando hoje este disco um claro exemplo de uma assinatura que faz de Nick Rhodes um dos teclistas de referência da história da pop. Esta relação entre guitarras, estrutura rítmica e cuidado trabalho para teclas definiria um paradigma na sonoridade dos Duran Duran, ao qual o grupo regressaria em alguns dos mais marcantes dos seus episódios posteriores. O disco, uma vez mais produzido por Colin Thurston, traduz uma arrumação que divide as canções em dois grandes grupos, com os temas de maior fulgor pop no lado A e as faixas mais desafiantes no lado B, num alinhamento que nos deu clássicos maiores como “Hungry Like The Wolf”, “Save a Prayer” ou o próprio “Rio”, todos eles editados em single, acompanhados por telediscos que fizeram história na alvorada da MTV.

1983. “Seven and The Ragged Tiger”
Nascido em várias etapas de trabalho que passaram por uma vivenda na Côte d’Azur e estúdios nas Caraíbas e Austrália, em sessões longas (e aparentemente nem sempre focadas), o terceiro álbum dos Duran Duran é o que mais claramente traduz os efeitos do estatuto de sucesso global que o grupo alcançara no ano anterior. De resto, o título do álbum (que corresponde ao de uma entre as várias canções criadas nas sessões no sul de França que acabaram fora do alinhamento) sugere a imagem de uma equipa de sete (ou seja, os cinco elementos do grupo mais os dois managers, os irmãos Berrow), representando o “tigre esfarrapado” uma ideia do sucesso.
O longo processo de escrita, gravação e mistura teve contudo resultados evidentes num álbum que não repetiu a pop mais luminosa e dançável de “Rio”, procurando antes novas demandas cenicamente mais complexas, não perdendo contudo as canções o seu sentido pop e, sobretudo, a capacidade em talhar refrões memoráveis que desde sempre se afirmou como uma das marcas de identidade dos Duran Duran. As letras eram mais abstratas em canções desenhadas sob um elaborado trabalho de teclas e uma produção, assinada por Alex Sadkin, atenta ao detalhe. Nasceu assim um monumento que só o contexto da época e a popularidade global que então o grupo conhecia conseguiu transformar num caso de sucesso de tamanha dimensão.
Ao sucesso dos singles “Union of The Snake” e “New Moon on Monday” juntar-se-ia, já em 1984, o impacte global de uma remistura de Nile Rodgers para “The Reflex”, que então lhes deu o seu maior êxito até então, traduzindo sobretudo nos EUA o efeito da digressão que andou por grandes salas de todo o território até finais de abril desse ano. O disco sugeria, enretanto, caminhos futuros… O carácter textural, centrado no trabalho das teclas, em “Tiger Tiger” e “The Seventh Stranger”, seria a porta evidente para os Arcadia, tal como o fulgor mais rock de “Of Crime and Passion” não estava longe de alguns caminhos a aprofundar pelos Power Station. Já alma de travo white funk de “Union of The Snake” lançaria uma ponte que, três anos depois, seria retomada e levada a mais consequentes destinos em “Notorious”.

1986. “Notorious”
O ano de 1985 tinha sido de quase sabática para os Duran Duran. E quando a canção criada para o novo James Bond chegou à rua já o grupo estava dividido em duas facções, cada qual trabalhando projetos em paralelo: Andy e John nos Power Station, Simon, Nick e Roger nos Arcadia, ambos tendo editado álbuns nesse mesmo ano. Em 1986 era chegada a hora de reunir, mas a vontade em sair de cena do baterista e o abandono, a meio das sessões, do guitarrista (que entretanto havia iniciado uma carreira a solo), acabar por ditar uma inevitável reordenação das ideias, avançando para a conclusão do novo álbum chamando alguns músicos. Nile Rodgers estava desde o início ao leme da produção, definindo desde logo a sua presença um pendor mais funk ao som que começava a nascer. O baterista Steve Ferrone surge então (ficando ali por algum tempo), assim como a estúdio chegava pela primeira vez o ex-Missing Persons Warren Cuccurullo, guitarrista que acabaria como membro de pleno direito do grupo em 1989 e seria mesmo um dos músicos mais ativos nos Duran Duran até à sua saída após o álbum “Pop Trash”.
Os ecos das experiências entretanto reveladas via Power Station e Arcadia juntavam entretanto ideias à alma white funk que dominava o disco. Se em canções como “Notorious”, “Skin Trade”, “So Mislead” ou o flirt com domínios latin funk de “Meet El Presidente” traduzem essa medula que define o som do álbum, já a face mais arty e cenicamente elaborada dos Arcadia se manifesta em canções como “Winter Marches On”, “American Science” ou “A Matter of Feeling”, cabendo à angulosidade para guitarras trazida dos Power Station uma expressão evidente em “Hold Me”, “Vertigo (Do The Demolition)” ou parte de “Proposition.” O mundo tinha, contudo, descoberto novos entusiasmos e os Duran Duran eram pela primeira vez confrontados com um mapa pop diferente. A resiliência, que os mantém hoje em dia como – juntamente com os U2 e Depeche Mode – raros casos de sobrevivência entre as bandas da sua geração (e note-se que mesmo tendo mudado de formação e retomado mais tarde a “clássica”, na verdade nunca colocaram pela frente um cenário de ponto final), nasce da forma de reagir a este embate. Novos caminhos, novas estratégias e, sobretudo, novos desafios, eram agora o seu horizonte. Da memória de Notorious vale a pena notar que é um disco profundamente influenciado pelo cinema, sobretudo o de Hitchcock. O tema-título e “Vertigo” citam concretamente dois filmes seus. E “Hold Me” chegou a ter “The Rope” como título de trabalho.

1988. “Big Thing”
O “patamar” no qual os Duran Duran habitavam antes do hiato de 1985 estava distante, com as atenções mainstream agora focadas noutros protagonistas. E entre a incerteza com que um novo disco seria recebido e a vontade para experimentar outras ideias e eventuais novos caminhos eis que nasceu “Big Thing”, que tentou juntar dois mundos num álbum só. A relação próxima dos Duran Duran com a música de dança, expressa logo desde o álbum de estreia, levou-os a olhar uma vez mais em volta, assimilando então ecos da revolução house em curso. Será um exagero encarar “Big Thing” como o álbum house dos Duran Duran, mas em canções como “I Don’t Want Your Love” e “Drug (It’s Just a State of Mind)” há um flirt com novas formas rítmicas que dirigem em favor de uma construção pop. Já o tema-título ou, mais ainda, “All She Wants Is”, procura um diálogo mais profundo entre essas novas tendências e uma herança pop na qual as guitarras marcam uma presença evidente.
O lado B segue contudo outros caminhos, acentuando o caráter cénico mais elaborado de “Seven And The Ragged Tiger” e aprofundado depois pelos Arcadia, apresentando uma sucessão de baladas e canções mid-tempo que estabelecem ali, salvo nos instantes finais elétricos de “Lake Shore Drive”, um mood que contrasta com o fulgor anguloso e dançável do lado A. O lado B abre em tom elegíaco – homenageando figuras entretanto desaparecidas como as de Andy Warhol ou Alex Sadkin (que produzira o grupo nas sessões de 1983) – com “Do You Believe in Shame?”. Gravado em Paris, contando em estúdio com a presença de Daniel Abraham e Jonathan Elias, “Big Thing” não repetiu os patamares de sucesso dos discos anteriores, gerando mesmo assim momentos de grande visibilidade e motivando duas digressões que fizeram constatar que, mesmo já longe do estatuto global de outrora, uma sólida base de admiradores continuava a acompanhar a banda.

1990. “Liberty“
Em maio de 1989 o grupo reuniu-se num celeiro na região de Sussex para ensaiar e compor novas canções. A grande novidade era a integração como membros da banda de dois músicos norte-americanos que haviam colaborado regularmente com o grupo nos últimos tempos. O guitarrista Warren Cuccurullo tocava com os Duran Duran desde as sessões de “Notorious” e tinha já andado na estrada desde então. O baterista Sterling Campbell, que participara nas sessões de “Big Thing” e estivera com eles em palco logo a seguir, sentava-se oficialmente no banco do baterista. Chamaram para o lugar de produtor o experiente Chris Kimsey, figura ligada ao rock e com trabalho mais notável assinado junto dos Rolling Stones… Algo estava a mudar… As guitarras, mais intensas que nunca, emergem como uma marca de identidade em temas como “First Impressions” , “Read My Lips” ou “Hothead”, esta última num espaço de diálogo entre a alta tensão elétrica e um trabalho rítmico de escola funk que representa uma continuação do que havia emergido nos Power Station. Uma velha admiração por rumos do R&B manifestava-se no tema-título. Já “Downtown”, “Venice Drowning” ou “My Antartica”. E “Serious” é uma discreta pérola (quase) perdida. Já o single de avanço “Violence of Summer (Love’s Taking Over)”, mesmo sendo um dos mais incaracterísticos da obra dos Duran Duran, tem a presença (invulgar) do piano como força protagonista nas teclas procura caminhos mais próximos de heranças rock e, ao mesmo tempo, o apelo dançável da italo house.
Há depois canções que não fizeram de todo história e que manifestam a desorientação que o disco, como um todo, acabaria por retratar. Vale a pena notar que, anos volvidos sobre a edição do álbum, não faltaram referências, por elementos do grupo, ao que consideram ter sido não apenas uma etapa demasiado rápida de escrita, mas também uma produção que moldou algumas das canções aquém de potencialidades que as maquetes poderiam sugerir. Pressa, uma banda desfocada e, sobretudo, uma falta de pensamento sobre que caminho a tomar resultou num disco que assinala um dos episódios menos felizes da obra dos Duran Duran. A experiência ensinou-os a acautelar a existência de um mais sólido corpo de canções na etapa de composição antes de assumir a passagem à gravação. E salvo o momento igualmente frágil (mas por motivos distintos) vivido em “Pop Trash” (dez anos depois de “Liberty”), nunca mais um álbum de originais dos Duran Duran descarrilou desta maneira.

1993. Duran Duran (Wedding Album)
Os resultados discretos de “Liberty” assinalaram a chegada dos Duran Duran aos anos 90 num patamar distante daquele que haviam conhecido nos anos 80. Reduzidos a quatro com a saída do baterista Sterling Campbel e instalaram-se num estúdio montado na sala de estar da casa do guitarrista Warren Cuccurullo e aí começaram a registar maquetes, aos poucos ganhando forma um disco distante das sonoridades que o grupo antes havia seguido, mas distinto dos caminhos explorados no álbum de 1990. Uma das primeiras canções a atingir a forma final foi “Ordinary World”, balada que começou a ser rodada numa estação de rádio em Los Angeles em finais de 1992, numa altura em que o disco estava praticamente concluído. De horizontes mais abertos, a produção deu espaço ao reemergir de duas características basilares da música dos Duran Duran algo toldadas no disco de 1990: a presença do trabalho elaborado de sintetizadores de Nick Rhodes e as frequentes incursões da música do grupo pelos espaços da música de dança. A clássica relação com heranças R&B, o experimentar de outras potencialidades do trabalho de samples ou o clima indie pop do momento, juntam-se numa paleta que define um novo patamar que, por via do sucesso de “Ordinary World”, reforçado logo depois por “Come Undone”, garantiu um novo fôlego de vida ao grupo.
O álbum traduz em canções como “Too Much Information” ou “Sin Of The City” uma alma mais política, num alinhamento revelava pela primeira vez a presença num álbum de uma versão (“Femme Fatale”, original dos Velvet Underground). Uma das maiores surpresas do alinhamento do disco foi contudo – e sobretudo para quem fala português – um dueto bilingue com Milton Nascimento em “Breath After Breath”, numa canção que chegou a ser lançada como single no Brasil. Com vontade de assinalar aqui um novo recomeço, resolveram chamar-lhe simplesmente “Duran Duran”. O facto de a capa ter nascido da reunião de fotos dos casamentos dos pais dos quatro elementos da banda fez com que, informalmente, acabasse conhecido como “The Wedding Album”.

1995. Thank You
O compasso de espera que resultou do adiamento do lançamento do “Wedding Album” de 1992 para 93 foi ocupado pelos músicos em novas sessões de estúdio das quais nasceria não apenas o inédito “Come Undone”, mas também uma série de versões que, aos poucos foram acumulando. Uma delas, a de “Femme Fatale”, chegou mesmo a ser rumar ao disco que editaram em 1993. Mas a ideia de fazer todo um álbum de versões ganhou fôlego. O histórico “Pin Ups” de David Bowie estará na raiz desta vontade do grupo em definir, através de uma seleção de versões, uma homenagem a alguns daqueles que os inspiraram. Alargando, contudo, o leque das suas memórias formadoras para abranger algumas descobertas e vivências mais recentes.
O leque de temas escolhidos é vasto e versátil, passando pelos espaços do rock mais clássico, o universo dos cantautores da escola de 60, as memórias da new wave, os terrenos do funk ou o hip hop, num alinhamento que inclui “White Lines” (Grandmaster Melle Mel), “I Wanna take You Higher” (Sly & The Family Stone), “Perfect Day” (Lou Reed), “Watching The Detectives” (Elvis Costello), “Lay Lady Lay” (Bob Dylan), “911 is a Joke” (Public Enemy), “Success” (Iggy Pop), “Ball of Confusion” (The Temptations) e “Thank You” (Led Zeppelin). O disco inclu ainda “Drive By”, uma nova leitura sobre “The Chauffeur” (do álbum “Rio” de 1982), assimilando aqui ecos da digressão acústica de 1993. Os resultados são contudo desiguais, a crítica foi arrasadora e o álbum acabou por não expandir o momento de reencontro com um patamar de maior popularidade entretanto alcançado com o “Wedding Album”. A versão de “Perfect Day”, que valeu um rasgado elogio do próprio Lou Reed, foi escolhida como single de apresentação e representou, após dez anos de silêncio, o primeiro reencontro com o baterista Roger Taylor, que acedeu inclusivamente em surgir no teledisco que então acompanhou a canção.

1997. Medazzaland
Um dos mais desafiantes momentos na obra dos Duran Duran, “Medazzaland” revelou sinais de uma demanda por uma música feita de estruturas mais complexas, cruzando o labor das electrónicas com o trabalho das guitarras, aproximando o som dos Duran Duran mais das linhas pelas quais caminhavam algumas famílias do pop/rock de matriz indie nos anos 90 do que das memórias de uma pop mais luminosa e dançável que pareciam cada vez mais distantes nas suas memórias dos oitentas. O disco foi de génese difícil, assistindo mesmo a um novo episódio de cisão interna ao confirmar-se a saída do baixista John Taylor. O afastamento de um dos dois fundadores do grupo levou mesmo a novos episódios de trabalho em estúdio e à regravação de vários temas, a sua presença limitando-se no fim a apenas quatro canções do alinhamento final.
Com produção em grande parte assegurada por Nick Rhodes e Warren Cuccurullo (assinando como TV Mania), o álbum confirmava um aprofundar de caminhos sugeridos no Wedding Album, explorando um trabalho de arranjos mais intenso e complexo, ensaiando experiências por novos terrenos, assimilando entre outras heranças as do psicadelismo ou da música indiana (Talvin Singh, nas tablas, é um dos convidados), num corpo de canções que se revelaria o mais inspirado e suculento da obra do grupo nos anos 90. O tema-título, que abre o alinhamento, revelou a estreia vocal de Nick Rhodes, num registo spoken word sobre um instrumental que lança os caminhos pelos quais a música do disco depois evolui. As fracas vendas obtidas no Japão e EUA, onde o álbum foi lançado em primeiro lugar, conduziram a um adiamento da sua chegada aos mercados europeus, que acabaria por nunca se concretizar naquel tempo, ficando o disco apenas confinado a edições físicas nesses dois primeiros territórios até que um CD e uma presenagem em vinil surgiram globalmente 25 anos depois.

2000. Pop Trash
O fim do relacionamento com o grupo EMI e o afastamento de John Taylor faziam da reta final dos anos 90 um tempo assombrado na vida dos Duran Duran. Talvez o período mais difícil da sua carreira. Com Simon Le Bon, algo desmotivado, a condução dos trabalhos de criação de um novo álbum coube sobretudo ao teclista (e fundador do grupo) Nick Rhodes e ao guitarrista Warren Cuccurullo que, juntos, vinham há já algum tempo a desenvolver ideias para um possível projeto paralelo a que chamavam TV Mania (nome já presente nos créditos de produção de “Medazzaland” e que teria neste novo álbum um papel semelhante). Ao disco, editado em junho de 2000, chamaram “Pop Trash”. É um disco sem rumo focado, disperso, espelhando o clima de alguma desorientação de uma banda que estava claramente em fim de ciclo.
Musicalmente o disco revela um alinhamento entre o conjunto de ideias lançadas por volta do “Wedding Album” e aprofundado em “Medazzaland”, revelando uma busca de uma identidade mais próxima de referências mais caras ao universo indie dos anos 90 do que próximas das matrizes new wave, pop e white funk que tinham caracterizado o seu período clássico entre 1981 e 1986. Canções como “Hallucinating Elvis” ou “Lava Lamp” traduzem essa atmosfera, a primeira vincando uma presença evidente de guitarras mais cavas que teriam voz ainda mais amplificada em “Playing With Uranium” (escolhido como segundo single, apenas em Itália) ou “Last Day on Earth” (segundo single, apenas no Japão). Para o single de avanço (o único com expressão global) foi escolhido o tema “Someone Else Not Me”, uma bela balada de travo clássico e, talvez, a mais nutritiva das canções do álbum. Além deste single os melhores momentos do álbum surgem entre outras baladas ou canções mid tempo: “Lady Xanax” (herdeira do caráter luxuriante da pop dos Arcadia) e “Pop Trash Movie,” originalmente composta para o regresso dos Blondie (mas depois não gravada pelo grupo americano). O conjunto de 13 micro-experiências que, sob a designação “Prototypes”, que encerra o alinhamento de algumas edições especiais do disco, é interessante enquanto revelação de universos experimentais. Para a capa o grupo escolheu um close up sobre a carroçaria de um dos carros de Liberace, coberto de espelhos. As vendas discretas fizeram do álbum um ato único na relação do grupo com a Hollywood Records. No final uma coisa ficava clara: era preciso mudar de rumo. Assim seria…

2004. Astronaut
A discreta vida pública de “Pop Trash” (2000) deixou os Duran Duran à beira do abismo, com um possível ponto final pela sua frente. E ao possível final, o resiliente teclista Nick Rhodes – o único elemento do grupo ininterruptamente presente desde a sua formação – e o vocalista Simon Le Bon afastaram o guitarrista Warren Cuccurullo e encetaram um processo de contactos com antigos elementos que, em 2001, lhes permitiu anunciar que a formação “clássica” do grupo (a que vivera os dias de maior sucesso entre 1981 e 85) estava reunida e a trabalhar num novo álbum. As sessões começaram no sul de França mas encontrar uma nova editora, que lhes concedesse a desejada liberdade artística e garantisse um esforço promocional adequado, não estava a ser fácil. E, mesmo já com uma série de novos temas em carteira, optaram por partir para a estrada, num esforço de demonstração de um patamar de popularidade que era ainda seu, nem que capitalizando o efeito da nostalgia que, por essa altura, assistia a tantas outras reuniões do género.
Se bem que essencialmente centrados num alinhamento greatest hits, os concertos foram, apresentando algumas novas canções. Ao mesmo tempo uma maquete andou entre escritórios de editoras e promotoras, acabando mesmo por chegar ilegalmente à Internet, revelando algumas das novas canções, entre elas “Virus”, que seria incluída como extra numa edição japonesa e “(Reach Up For The) Sunrise”, que foi meses depois o primeiro single do novo álbum. O grupo acabou por encontrar editora na Sony Music, concluindo as gravações do novo disco na companhia dos produtores Don Gilmore, Dallas Austin e do velho parceiro Nile Rodgers. Editado em outubro de 2004 com o título “Astronaut”, o álbum revela, apesar do sucesso de canções como “(Reach Up For The) Sunrise” e “What Happens Tomorrow”, que vincaram o impacte da digressão que então correu mundo, um sentido de dispersão de ideias, ora revistando caminhos pop com tempero funk ora as cenografias mais complexas que surgiam nos seus discos desde 1983. Ao mesmo tempo o alinhamento afastava-se dos trilhos mais indie percorridos nos anos 90.

2007. Red Carpet Massacre
Após o impacte de “Astronaut” era preciso dar novo passo e, em finais de 2005, estavam de novo em ensaios. Com um corpo considerável de canções já gravadas e o nome “Reportage” como título de trabalho, o grupo terá então apresentado o disco (num estado ainda inacabado) à editora que ali apontou não apenas a falta de um single evidente, como reagiu aos caminhos mais rock que o disco seguia… Segundo descrições em várias entrevistas sabemos hoje que “Reportage” teria sido um álbum mais próximo das raízes new wave dos Duran Duran, com letras de mais vincado teor político. Foi da editora a sugestão de haver ali alguma maior presença pop… E a escolha do grupo sobre alguém com quem trabalhar apontou a Timbaland, que admiravam e com quem se juntaram em primeiras sessões de trabalho das quais surgiram“Skin Divers”, “Zooming In” e “Nite Runner,” esta última surgindo de uma colaboração com Justin Timberlake. Do projeto inicial para juntar estas canções às de “Reportage” avançaram para uma mais profunda ligação a estes caminhos entretanto abertos, projetando novas sessões com Nate “Danja” Hills, um colaborador habitual de Timbaland. Ao mesmo tempo, e de uma aparente insatisfação com o rumo que os trabalhos estavam a tomar, o guitarrista Andy Taylor voltava a anunciar a sua saída do grupo.
Todo o álbum, ao qual chamaram “Red Carpet Massacre”, nasceria das sessões que se seguiram, vincando uma ligação a sonoridade que associamos a heranças diretas do hip hop e derivações do funk que, na verdade, são até longe de ser realidade alienígena na obra dos Duran Duran. O disco concilia essa abordagem com mais evidentes marcas de ligação aos produtores e a Timberlake, mas a alma clássica dos Duran Duran, na sua faceta cenicamente mais elaborada, está também aqui vincada. O tema-título, por seu lado, garantiu que não se encerrasse a janela de comunicação com a faceta indie que o grupo tinha respirado nos anos 90. A escolha de single (o único extraído do alinhamento do álbum) coube a “Falling Down”, um mid tempo criado em parceria com Justin Timberlake e Timbaland. O álbum ficou aquém do esperado, acabando por levar a banda a um afastamento da Sony Music. Tal como sucedera com o ainda mais invisível “Medazzaland”, “Red Carpet Massacre” tornou-se no segundo grande álbum esquecido dos Duran Duran.

2010. All You Need Is Now
Terminada a ligação à Sony Music, os Duran Duran estavam, tal e qual após “Pop Trash “(2000), sem editora que assegurasse o lançamento de um novo disco. Resolveram que esse não seria motivo para o não fazer. E na era do do it yourself, usaram a sua própria Tape Modern para editar um álbum que acabou por traduzir os ecos da memória da formação clássica da banda e dos seus melhores episódios criativos. Longe de uma grande editora, o 13º álbum dos Duran Duran chegou em finais de 2010 sob uma expectativa criada mês após mês ora através de clips ‘making of’ postados na Internet, ora pelo entusiasmo com que Mark Ronson, o produtor, ia descrevendo os trabalhos, a ele cabendo a frase que apontava o disco como o sucessor de “Rio” que nunca havia sido criado (ideia que, sabemos hoje, foi de resto o desafio central que ele mesmo então lançou á banda).
Apesar da angulosidade contemporânea do tema-título, o tutano de “All You Need Is Now” é puro Duran Duran, ideia que ganha forma em canções como “Blame The Machine”, “Being Followed” ou “The Man Who Stole a Leopard”, este último continuando um rumo de ideias onde “The Chauffeur” as deixara nas últimas notas de “Rio”… Pelo caminho há ainda novos sinais de uma antiga (boa) relação com uma noção de pop luminosa e dançável. A edição física, lançada meses depois, juntou então novas pérolas ao alinhamento, como “Other Peoples Lives” ou “Too Bad You’re So Beautiful” (esta uma herdeira clara de uma ideia de perfeito diálogo entre guitarras e electrónicas de um “Hold Back The Rain”). De novo o LP e CD juntaram ainda ainda os interlúdios instrumentais “A Diamond In The Mind” e “Return To Now”, variações em torno do tema título com arranjos orquestrais de Owen Pallett. O álbum pode não ter repetido as ousadias de “Medazzaland” ou “Red Carpet Massacre”, apostando no reencontro com ecos de uma genética que, na verdade, era a dos Duran Duran. Mas revelou a melhor coleção de canções do grupo desde os dias de “Rio”. Mark Ronson tinha mesmo razão quando lançou o desafio.

2015. Paper Gods
Aos 37 anos de carreira os Duran Duran voltam, como no álbum anterior, a lidar com o seu próprio legado, mas chamam a bordo novos colaboradores que com eles garantem que este não será um disco voltado para o passado. As marcas de etapas anteriores cruzam o álbum, em viagens que vincam as características centrais da identidade da música dos Duran Duran: elegância nos sintetizadores, refrões “orelhudos” e irresistíveis, a voz e uma relação com o apelo à dança, sublinhando aquela que é na verdade a mais recorrente das marcas de identidade da pop do grupo. Nunca antes tinham marcado presença tantos colaboradores, sobretudo vocais. “Paper Gods” alarga assim a uma série de novos parceiros o espaço de criação e interpretação garantindo, sobre firmes alicerces na identidade do grupo, o seu disco mais aberto ao diálogos com o presente desde os dias em que eram eles quem o estava a ajudar a inventar.
Este é um disco talvez menos imediato do que o anterior (o que é natural tendo o álbum de 2010 nascido de um reencontro com sonoridades de 1982). Mas acabou por ser um novo passo tão sólido quanto esse o fora, dando conta do atingir daquele seguro patamar de veterania, não rendido à nostalgia, mas também sem vontade de se mascarar ao sabor das tendências da moda, o que garante a uma obra com décadas de vida uma renovada e segura ligação ao presente.
2021. Future Past
2023. Danse Macabre
EDIÇÕES LOCAIS:
1983. Duran Duran (EUA)
ÁLBUNS AO VIVO:
1984. Arena
2003. Encore Series
2005. Live From London
2009. Live at Hammersmith 82
2010. BBC In Concert: Hammersmith Odeon, 17th December 1981 (edição digital)
2010. Live at The Beacon Theatre (NYC 31th August 1987) (edição digital)
2010. BBC In Concert: Manchester Apollo, 25th April 1989) (edição digital)
2012. A Diamond in the Mind (Live 2011)
2017. Thanksgiving Live At Pleasure Island
2018. Budokan
2018. The Ultra Chrome Latex and Steel Tour
2019. As The Lights Go Down
COMPILAÇÕES / CAIXAS:
1986. La Dolce Vita (Itália)
1987. Master Mixes
1989. Decade
1998. Greatest
1998. Night Versions
1999. Strange Behaviour
2000. The Essential Coillection
2003. Singles Box Set 1981-1985
2004. The Singles 1986-1995
2012. The Biggest and The Best

SINGLES:
1981. Planet Earth (ler aqui)
1981. Careless Memories (ler aqui)
1981. Girls on Film (ler aqui)
1981. My Own Way (ler aqui)
1982. Hungry Like The Wolf
1982. Save a Prayer
1982. Rio
1983. Is There Something I Should Know?
1983. Union of The Snake
1984. New Moon on Monday
1984. The Reflex
1984. The Wild Boys
1985. Save a Prayer (live)
1985. A View To a Kill
1986. Notorious
1987. Skin Trade
1987. Meet El Presidente
1988. I Don’t Want Your Love
1988. All She Wants Is
1988. Too Late Marlene (Brasil)
1989. Do You Believe In Shame?
1989. Burning The Ground
1990. Violence of Summer (Love’s Taking Over)
1990. Serious
1993. Ordinary World
1993. Come Undone
1993. Too Much Information
1993. Drowning Man (EUA)
1993. None Of The Above (Japão)
1995. Perfect Day
1995. White Lines (Don’t Do It)
1995. Lay Lady Lay (Itália)
1997. Out Of My Mind
1997. Electric Barbarella
2000. Someone Else Not Me
2001. Last Night on Earth (Japão)
2004. Reach Up for the Sunrise
2004. What Happens Tomorrow
2007. Falling Down
2010. All You Need Is Now
2011. Girl Panic (EUA)
2015. Pressure Off
2021. Give It All Up ft. Tove Lo
2022. All of You
EPs:
1981. Nite Romantics (Japão)
1982. Carnival
1983. DMM Mega Mixes (Alemanha)
1984. Tiger! Riger! (Japão)
1985. Mixing (Itália)
1987. Strange Behaviour (Japão e Itália)
2010. The Dub Mix EP (digital)
2012. Remix EP (digital)
2011. From Mediterranea With Love (digital)
2013. No Ordinary EP
PROMOS:
1981. With Compliments (Portugal)
1982. Anyone Out There (Brasil)
1987. Duran Goes Dutch (Holanda)
1993. Breath after Breath (Brasil)
1998. The Remixes – Part One
1998. The Remixes – Part Two
2000. Playing With Uranium
2004. Nice
2007. Skin Divers (Hong Kong)
2011. Leave a Light On
2015. What Are The Chances?
2016. Last Night In The City
EDIÇÕES DIGITAIS (SINGLES)
2021. Five Years
2021. Invisible
2021. More Joy ft. Chai
2021. Anniversary
2021. Tonight United
2022. Laughing Boy
2023. Ball and Chain
2023. Danse Macabre
2023. Black Moonlight
2023. Psycho Killer (com Victoria de Angelis)
2024. New Moon (Dark Phase)




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